segunda-feira, 4 de abril de 2011

Delegado do Bahrein em sabatina e apresentação

Entenda a situação política e a crise na Líbia

Conflito na Libia

País está à beira da guerra civil, entre forças leais e contrárias a Muammar Gaddafi
Robert Schimidt/AFP 
Robert Schimidt/AFP

Forças de Gaddafi bombardeiam e retomam o controle da cidade petrolífera de Ras Lanuf, no dia 10 de março
Mergulhada em uma guerra civil, a Líbia é hoje uma nação dividida entre as forças leais ao ditador Muammar Gaddafi e a oposição, que domina o leste do país e pede por democracia. Há mais de quatro décadas no poder, Gaddafi resiste ao movimento que pretende por fim ao seu regime autoritário.

A repressão aos manifestantes e a contraofensiva (para recuperar cidades perdidas para os opositores) já deixou cerca de 6.000 mortos, segundo organizações de direitos humanos.
Diante da promessa de massacre aos rebeldes, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) autorizou na uma intervenção militar na Líbia para “proteger a população civil”, além de criar uma zona de exclusão aérea no país. Estão autorizados bombardeios aéreos, mas sem ocupação terrestre de tropas da coalizão.
O governo líbio prometeu um cessar-fogo imediato, mas as forças de Gaddafi continuam a atacar fortemente cidades rebeldes. Desta forma, a França começou os ataques contra as tropas de Gaddafi, ação seguida mais tarde pelos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Itália.

Como a crise começou?
Oprimidos por quatro décadas de regime autoritário, vivendo sob péssimas condições econômicas em um país rico em petróleo e inspirados nas revoluções que derrubaram as ditaduras da Tunísia e do Egito, cidadãos líbios foram às ruas da Líbia a partir do dia 15 de fevereiro.
O movimento rapidamente ganhou força no leste do país, e a cidade de Benghazi (a segunda maior) se tornou o epicentro dos protestos.
A repressão respondeu com força, e o regime ordenou o bombardeio de manifestantes. Muitos militares desertaram e passaram a seguir as ordens de Gaddafi. Dois pilotos desviaram um caça líbio para Malta e pediram asilo.
O avanço da oposição
No dia 25 de fevereiro, Muammar Gaddafi apareceu em público e se disse disse disposto a morrer lutando. O filho do ditador, Saif al Gaddafi, alertou para o perigo de uma guerra civil e disse que rios de sangue correriam caso os protestos continuassem.
A partir do dia 20 de fevereiro, militares abandonam em massa o regime e vários diplomatas líbios deixam seus postos no exterior. O embaixador da Líbia na ONU pede que a comunidade internacional salvasse o país.
A oposição avançou e passou a controlar Benghazi, Tobrouk, Misrata e outras cidades do leste. Os líderes rebeldes fundam um conselho para a transição, já reconhecido como governo provisório pela França.
A ditadura contra-ataca
Gaddafi lançou uma contraofensiva no leste, bombardeando Benghazi. O avanço da oposição na cidade de Zawyia, a 50 km de Trípoli, provocou um massacre. Segundo organizações de direitos humanos, os mortos pela repressão podem chegar a 6.000.
Enfraquecido, Gaddafi passou a contratar mercenários no norte da África. A crise na Líbia também provocou um êxodo no país. Ainda assim, Gaddafi recuperou as cidades de Zawyia, em 4 e 5 de março, e Ras Lanuf, nos dias 8 e 9.

Segundo a ONU, mais de 150 mil pessoas fugiram do conflito, entre eles cerca de 500 brasileiros que viviam no país – a maioria funcionários de empresas multinacionais brasileiras, retirados de avião e navio para a Europa.
O regime também tem dificultado a cobertura da imprensa estrangeiras e prende jornalistas, entre eles o repórter do jornal O Estado de S. Paulo, o brasileiro Andrei Netto.
O mundo reage
A comunidade internacional condenou rapidamente a repressão sangrenta na Líbia. Os EUA anunciaram sanções ao regime no dia 25 de fevereiro. A ONU, que suspendeu a Líbia de seu Conselho de Direitos Humanos, e a União Europeia também anunciaram medidas contra a ditadura de Gaddafi nos dias seguintes. A Suíça congelou os investimentos da família no país.
A ONU também autorizou procuradores do Tribunal Penal Internacional a investigar crimes de guerra cometidos Gaddafi durante a repressão aos rebeldes. No dia 4 de março, a Interpol (polícia internacional) lançou um alerta internacional contra o líder líbio e 15 colaboradores.
O Brasil também condenou a repressão na Líbia.
Em 17 de março, o Conselho de Segurança da ONU autorizou uma intervenção militar e a criação de uma zona de exclusão aérea no país. Dois dias depois, a França deu início aos bombardeios contra tropas de Gaddafi, seguida mais tarde por Reino Unido, Canadá, Itália e Estados Unidos.

Delegada da Bolivia apresentando seu país em inglês

Brasileiros se destacam na história da ONU

Sergio - Filme obrigatorio para entender o papel de um diplomata na ONU

O homem que causava mais medo que Gaddafi

El País
Walter Oppenheimer
Em Londres (Reino Unido)
  • Gaddafi faz discurso à população e diz que Seremos vitoriosos no final Gaddafi faz discurso à população e diz que "Seremos vitoriosos no final"
Musa Imhimid Kusa, nascido em 1948, desenvolveu quase toda a sua carreira política à sombra de Muammar Gaddafi. Considerado em certo momento o braço-direito do coronel, ou um de seus muitos braços-direitos, consolidou sua influência durante os 15 anos que passou à frente dos serviços secretos da Líbia. A mudança geoestratégica causada pelos atentados de 11 de setembro de 2001 levou Kusa a se transformar em um dos principais promotores da aproximação da Líbia com o Ocidente. Uma mudança estratégica da qual dizem que Gaddafi sempre receou e que só aceitou a contragosto. E que parece estar na origem de um crescente afastamento mútuo que agora se concretizou em pura e simples deserção.
Os papéis do Departamento de Estado vazados pelo WikiLeaks desenham Kusa como um pragmático, desejoso de não provocar o Ocidente e incômodo com as intransigências de Gaddafi e alguns de seus desafios menos necessários. Um Kusa que já beira os 60 e que se parece muito pouco com o ardoroso estudante que no início dos anos 1970 entrevistou Gaddafi para seu trabalho de graduação em sociologia na Universidade de Michigan. "Era um homem muito brilhante", lembra no jornal "Los Angeles Times" o então orientador da tese e hoje responsável pelo departamento de sociologia, Christopher K. Vanderpool. "Teria feito muito bem se quisesse ser professor de planejamento social."
Mas Kusa rejeitou as ofertas de realizar um doutorado em Michigan e preferiu voltar à Líbia do coronel Gaddafi e começar sua carreira política como responsável pela segurança nas embaixadas líbias na Europa, transformando-se no embaixador em Londres em 1980. Uma etapa que seria muito breve. Declarações dele afirmando sua admiração pelos terroristas do IRA e uma entrevista no "Times" na qual expressou seu apoio ao assassinato de exilados líbios no Reino Unido provocaram sua expulsão.
Novamente em Trípoli, transformou-se no diretor do Centro Mundial de Resistência ao Imperialismo, um instrumento que tentava exportar a revolução de Gaddafi para outros países. No final dos anos 80 chegou a número 2 da espionagem líbia, a Organização de Segurança Externa. Alguns serviços de inteligência acreditam que nesse período Kusa idealizou ou apoiou vários atentados no exterior, como o do avião da PanAm que explodiu sobre Lockerbie, na Escócia, a explosão de um avião francês no céu do Níger ou o atentado a bomba em uma discoteca na Alemanha.
Depois de um breve período como nº 2 das Relações Exteriores, Kusa alcançou em 1995 o ápice dos serviços de inteligência, uma posição de enorme poder que manteve durante 15 anos, até 2009, quando foi nomeado ministro das Relações Exteriores.
O que parece uma ascensão, um cargo político de relevância pública, pode ser também uma prova de seu afastamento da sombra que mais o protegia: a de Gaddafi. Os acordos pelos quais a Líbia deixou de ser um país pária em troca de renunciar a seu programa de armamento nuclear e entregar os suspeitos do atentado de Lockerbie parecem ter minado a relação com o coronel.
As posteriores negociações para transferir à Líbia de uma prisão na Escócia o único condenado pelo atentado de Lockerbie lhe permitiram conectar-se diretamente com os serviços de inteligência britânicos, e de fato esteve duas vezes na Escócia durante essas negociações. Aquele vínculo pode ter facilitado agora sua fuga para o Reino Unido.
Seu distanciamento do coronel ficou patente em uma cúpula internacional em dezembro, quando se via Kusa com frequência fumando nos corredores, sem acesso à sala em que Gaddafi estava fechado com sua família e seu círculo mais próximo. Ou os rumores de que teve dois confrontos graves com filhos do líder líbio, e que em um deles um dos filhos o esbofeteou em público. Ou a anedota relatada por um correspondente da BBC, que acredita ter visto um Kusa mais humano e acessível em seus últimos anos à frente da inteligência.
Um Kusa muito diferente do que o que conheceu Jim Swire, pai de uma das vítimas de Lockerbie em uma viagem a Trípoli em 1998. "Era um homem que dava muito medo, mais medo que o próprio Gaddafi. Estava claro que era ele quem manipulava tudo", declarou ontem.
Baixas diplomáticas
Desde que começaram os protestos na Líbia, as deserções de políticos e diplomatas se sucederam como mostra de desafeto com o regime de Gaddafi.
- Ali Abdusalam Treki. O embaixador na ONU renunciou ontem a seu cargo no Cairo em protesto pela "espiral de sangue" no país.
- Abu Zayd Durda. O chefe da inteligência líbia decidiu fugir ontem para a Tunísia.
- EUA. O embaixador Ali Aujali comunicou em 22 de fevereiro que não continuaria representando o regime de Gaddafi.
- Austrália. Toda a embaixada rompeu relações com o ditador em 22 de fevereiro.
- China. Um diplomata se demitiu e instou todos os membros do serviço exterior a fazerem o mesmo.
- Índia. O embaixador Ali el Esaui renunciou ao cargo em protesto pela violência exercida pelo regime.
- Suécia. O embaixador em Estocolmo decidiu se opor a Gaddafi no mês passado.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Crise no mundo árabe

Manifestações contra o governo se espalham em países da África e do Oriente Médio após a queda do regime na Tunísia e no Egito

Benghazi, capital dos insurgentes líbios, busca uma difícil serenidade

Le Monde
Nicolas Bourcier
Enviado especial a Benghazi (Líbia)
  • Rebelde líbio faz guarda durante as orações de sexta-feira, na cidade de Benghazi, na Líbia 

  • Rebelde líbio faz guarda durante as orações de sexta-feira, na cidade de Benghazi, na Líbia


    • Sete semanas após o início da revolução, Benghazi vive no ritmo das incertezas do front. E está se esgotando. Em um clima de insegurança e de paranoia, a capital da oposição líbia está suspensa em um instável equilíbrio, entre a esperança e o desânimo, o medo e a dúvida.
      Ainda no domingo (3), diante de uma multidão de jornalistas, um dos porta-vozes do movimento de libertação anunciou pela enésima vez a retomada da cidade costeira de Brega, 170 quilômetros mais a oeste. Uma notícia desmentida no minuto seguinte ao final da conferência, longe dos microfones, por um membro do conselho local dos rebeldes, que acabara de voltar das linhas de frente. Como se Benghazi estivesse buscando a qualquer preço comemorar vitórias que não aconteceram. Sem que ninguém critique.
      Deve ser dito que a cidade foi salva pelo gongo. O avanço dos tanques do coronel Gaddafi pelas portas de Benghazi, no dia 18 de março, alastrou o medo. Salva no último momento pelos ataques aéreos ocidentais, ela vem se reerguendo aos poucos. Os rumores de atrocidades cometidas pelos déspotas do regime, que insurgentes têm transmitido pelo rádio, não ajudam na recuperação de um semblante de serenidade. A recente descoberta de uma lista de 8 mil pessoas residentes em Benghazi e que teriam sido agentes do Líder líbio também tem dado o que falar. Algumas delas teriam sido presas pelos chabab (jovens) em suas casas, e teria havido acertos de contas.
      Há dois dias, os incidentes noturnos são cada vez mais raros, mas eles ainda criam essa paranoia que impede uma volta à normalidade. As lojas continuam fechadas, em sua maioria. Os poucos bancos abertos só permanecem assim por algumas horas. A maioria dos funcionários não recebe há mais de três meses. E os combatentes civis continuam a percorrer as ruas, passando a imagem de uma evidente desorganização.
      Mas, acima de tudo, talvez seja a incapacidade dos opositores de Muammar Gaddafi em instalar um contrapoder eficaz e transparente que mais cause preocupação, ainda latente entre os rebeldes, mas cada vez mais perceptível além das fronteiras.
      Divergências no comitê
      O Comitê Nacional Transitório, assembleia de cerca de trinta pessoas criada nos dias que se seguiram à insurreição de 17 de fevereiro, e que deveria dirigir o país enquanto se espera a queda do Líder, não conseguiu imprimir sua marca. Somente um terço de seus membros revelou sua identidade. Os outros, originários de cidades onde a influência das tropas leais a Gaddafi ainda é forte, preferiram se manter anônimos por questões de segurança, o que não facilitou as coisas.
      Além de certas tensões e da imprecisão que cercava as atribuições de cada um, era publicamente sabido que o presidente do comitê, Moustapha Abdeljalil, ex-ministro da Justiça, e seu vice, Abdelhafed Ghoga, advogado e militante de direitos humanos que nunca fez parte do regime, não gostavam muito um do outro. Então foi decidido, com incentivo do presidente, que fosse associada ao comitê “uma equipe de crise” de dez pessoas, correndo o risco de complicar ainda mais as coisas.
      “São especialistas encarregados do executivo”, defende-se Moustapha al-Gueriani, um dos porta-vozes do movimento. “Homens que trabalharam por muito tempo no exterior, muitas vezes por razões políticas, e que estão voltando  com seu conhecimento. De agora em diante o Conselho se torna o órgão legislativo”.
      O organograma completo desse novo “governo” foi revelado no sábado (2), em Benghazi. À sua frente está Mahmoud Jibril, um empresário cujo nome já havia aparecido no comitê. Foi ele que, juntamente com Ali al-Essawi, ex-embaixador e agora “ministro” das Relações Exteriores, encontrou o presidente Sarkozy em Paris, no dia 11 de março. Sob sua direção, está Omar Hariri, célebre prisioneiro político, encarregado dos assuntos militares ao lado do general Abdel Fatah Younes, chefe do estado-maior e que havia participado juntamente com Muammar Gaddafi, em 1969, da deposição do rei Idriss.
      A cadeira de “ministro das Finanças” coube a Ali Tarhouni. Professor de Economia nos Estados Unidos, ele voltou à Líbia há um mês depois de 35 anos de exílio. Ele será responsável por recuperar o bilhão de dólares (R$ 1,61 bilhão) impresso por Londres para o governo Gaddafi e que não foi entregue. “Havia ali um vazio total”, ele reconheceu diante de um grupo de jornalistas, na semana passada. “Acho que isso influiu na formação do comitê. Nós iremos mudar tudo isso, eu lhes prometo”. A rebelde Benghazi não espera outra coisa.
      Tradução: Lana Lim

      Filhos de Gaddafi propõem plano para viabilizar saída do líder líbio

      DO "NEW YORK TIMES"

      Pelo menos dois filhos de Muammar Gaddafi estão propondo solução ao conflito na Líbia que implicaria em afastar o ditador para dar lugar à transição para uma democracia constitucional, sob a direção de seu filho Saif al Islam.
      A revelação foi feita anteontem por um diplomata e um funcionário da Líbia.
      Os rebeldes que desafiam Gaddafi e as potências aliadas que os apoiam com ataques aéreos até agora vêm insistindo sobre uma ruptura mais radical com os 41 anos de governo de Gaddafi, 68.
      E não está claro se Gaddafi concorda com a suposta proposta defendida pelos filhos Saif e Saadi, embora uma pessoa próxima deles tenha dito que o ditador parece disposto a aceitar a proposta.
      As propostas são também o sinal mais recente de que o regime de Gaddafi pode estar sentindo a pressão de mais de duas semanas de ataques aéreos de forças aliadas, que reduziram fortemente a vantagem das forças de Gaddafi.
      Na última semana, um ex-premiê líbio próximo de Gaddafi admitiu que emissários do ditador negociam acordo com as potências ocidentais.

      IMPASSE
      No front de batalha, continuava ontem a disputa pela cidade de Brega, revelando impasse na evolução do conflito entre rebeldes e Trípoli.
      Ontem, as forças aliadas atacaram alvos na cidade, estratégica para o escoamento de petróleo, e em Sirte, terra natal do ditador da Líbia.

      ONU bombardeia base de presidente da Costa do Marfim

      Helicópteros das Nações Unidas dispararam mísseis contra quatro alvos de Gbagbo, que se recusa a sair

      É a segunda vez em três semanas que a ONU se agrupa com rebeldes para um ataque militar a um chefe de Estado

      Legnan Koula/EFE

      Civis mostram que estão desarmados ao andar por Abidjã

      DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

      Helicópteros da ONU dispararam ontem mísseis contra quatro alvos, incluindo um palácio de governo, do presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, em Abidjã, maior cidade do país.
      A ação é a segunda em pouco mais de duas semanas em que forças sob a chancela da organização se aliam a rebeldes para um ataque militar a um chefe de Estado.
      Na Líbia, uma aliança liderada por países ocidentais bombardeia tropas do ditador Muammar Gaddafi.
      Em ambos os casos, a justificativa principal é a mesma: necessidade de proteger civis. No caso da Costa do Marfim, é também uma resposta a um ataque recente das forças de Gbagbo que resultou em 11 soldados feridos.
      Gbagbo (pronuncia-se "bagbô") recusa-se desde novembro a ceder o cargo para o oposicionista Alassane Ouattara, cuja vitória na eleição presidencial é aceita pela comunidade internacional.
      Desde a semana passada, oposicionistas rumaram a Abidjã para depor Gbagbo.
      O ataque da ONU foi liderado por tropas francesas agindo sob o manto da organização e alvejou, além do palácio, uma residência oficial e duas bases militares.
      Há relatos conflitantes sobre o número de helicópteros na ação, variando de um a três. Não há informações sobre vítimas. A ação foi pedida pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
      A ONU tem 10 mil soldados no país desde 2004. Um porta-voz da organização declarou que uma resolução do Conselho de Segurança aprovada na semana passada autoriza o uso de força.
      O presidente dos EUA, Barack Obama, pediu a saída do presidente marfinense.

      ATAQUE FINAL
      A resolução prevê que sejam utilizados "todos os caminhos para cumprir o objetivo de proteger a população da violência, o que inclui a proteção do uso de armamento pesado contra civis".
      Segundo a missão de paz, Gbagbo preparava-se para um ataque em bairros residenciais em Abidjã antes de ser alvejado pelos mísseis.
      No último fim de semana, no entanto, foram as forças ligadas a Ouattara que tiveram de responder a acusações de um massacre na cidade de Duekoue (oeste). Alguns relatos falam em mais de mil mortos, número negado pelo líder oposicionista.
      Naquele episódio, no entanto, a ONU não tomou nenhuma atitude, o que deu argumento a Gbagbo de que haveria parcialidade da comunidade internacional.
      Na cidade de cerca de 3 milhões de habitantes, centro econômico do maior exportador de cacau do mundo, moradores aguardam apreensivos pelo confronto final.
      Nas primeiras horas de hoje (horário local), explosões e tiros eram ouvidos na direção do palácio presidencial, segundo a TV estatal RTI. A residência de Gbagbo estava cercada por oposicionistas.

      O conflito marfinense

      A Costa do Marfim nunca esteve tão próxima, nos últimos oito anos, de um retorno à guerra civil de 2002-03. Forças do presidente Laurent Gbagbo enfrentam-se com partidários de Alassane Ouattara, vencedor das eleições de novembro, nas ruas de Abidjã, a antiga capital onde vivem 3 milhões dos cerca de 20 milhões de habitantes da ex-colônia francesa.
      Gbagbo está no poder desde 2000 e aferra-se a ele mesmo com reconhecimento internacional, tanto de potências ocidentais quanto de países africanos, de que foi derrotado na eleição do ano passado. Ouattara, primeiro-ministro no início dos anos 90, busca agora tomar à força o que as urnas lhe deram, a Presidência, mas seu adversário recusa-se a entregar.
      A realidade, no entanto, é mais complexa do que tal sumário permite supor. Em situações de conflito armado, as definições sobre mocinhos e bandidos tornam-se no mínimo borradas; quem parece deter a razão hoje pode transformar-se no vilão de amanhã.
      Tendo isso em vista, a comunidade internacional deve agir com toda a cautela antes de engajar-se em campanhas militares. O pilar da convivência entre nações é o princípio da autodeterminação dos povos. Só se deve cogitar seu rompimento em casos extremos de morticínio.
      Nos últimos dias, porém, as forças leais ao candidato vencedor, Ouattara, foram acusadas, por entidades como a Cruz Vermelha, de cometer um massacre em seu avanço rumo a Abidjã. Grupos humanitários estimam em 800 os assassinados, o pior episódio de violência em quatro meses. O caso deveria servir como um alerta.
      Os últimos desdobramentos demonstram, entretanto, que a comunidade internacional cogita abandonar a prudente distância do confronto. Um helicóptero da ONU disparou mísseis contra tropas de Gbagbo em Abidjã, após seguidos ataques contra sua missão de paz no país. O argumento de autodefesa não atenua o risco inerente ao fato de as forças internacionais começarem a tomar partido na incipiente guerra civil.
      A ONU e as potências devem atuar de modo decidido para proteger civis. Mas precisam evitar ao máximo imiscuir-se no que é, acima de tudo, uma disputa interna.